Santana e K-ci and Jojo
As sete horas da manhã. As manhãs são preguiçosas como as estradas ao amanhecerem, é preciso acordarem os antigos construtores das estradas de Santiago para lhes agraciarem. Muito obrigado. Assim acabava as pressas de ida e da chegada, mas também as perdas das vidas desnecessárias. Mas, a avenida de Chão Bom para a Vila de Mangue cortou alguns traços que ligava a memória das suas gentes ao colonialismo, era o último sufoco para a morte completa de alguma ideologia dura como as barreiras das proteções de estradas, essas já foram derrubadas para dar lugar ao espaço de footing.
Desde sempre, a passadeira da vila de mangue apresentava-se morta como os pés que a davam vida, a frente das instituições públicas já se agrupavam pessoas velhas, uns com vinte anos e outras na casa da enta, dizia o Sérgio Cortela, os velhos são aqueles que não inovam ao contrário dos idosos que estão sempre à procura do aprendizado e inovação, essas já não vinham para às instituições estatais há muito tempo, mas também muitos deles já não vivem no Tarrafal.
É um êxodo brutal de pessoas e riquezas, sobretudo intelectual, que se perde para Portugal e para a cidade da Praia, uma dessas pessoas que assegurou o assédio da cidade foi o amado padre Santana, alias, nem sempre foi amado, todos os dias banhava no mar de presidente com o seu boxer de pano terra amarada com uma corda de carrapato de Monte Graciosa e boiava, boiava por vários minutos em cima da água como se não houvesse a missa da matina das sete horas.
Saia de rompante de dentro da água, vestia e voltava para casa sem despedir de ninguém, a moradia dos padres parece com os sentinelas ingleses nos seus postos de serviços, podiam receber uma cagada dos pombos que não se mexiam, na sua forma imóvel, assim era a casa dos padres, casa dos padres habitava pombos e outras aves que cagavam a vontade, com vento e chuva a casa não tremia, até hoje ainda idosa a casa, so o teto envelheceu, os homens também embranquecem os cabelos.
Sempre com o seu walkman de marca Coby, recebia cumprimentos de todo mundo que o conhecia e que achava-se puro cristão, acenava só com a cabeça, devido a pressa de chegar a casa, tomar um duche, vestir, e ir à Igreja tagarelar com as pessoas na presença dos barros e santos. Curioso! todos eles são branquinhos. Dizia Santana de vez em quando, exceto o senhor padroeiro da cidade que agora tem o cartão do partido no poder na Câmara Municipal, resmungava internamente no seu mais intimo coração, pensou o senhor santo padre, mas é uma boa constatação, que apego a coisas nossas.
Quando chegava à igreja, ainda com o seu walkmam pendurado e a ouvir música. – E hoje qual é a música que estas a ouvir? Perguntou o senhor Damaja, mas não respondeu o senhor padre Santana indo diretamente para o altar. – Hoje vamos mudar de melodia, vamos ensaiar a música dos niggas K-ci and Jojo e a música All my life. Tirou o piano da maleta deu sinal ao Benasihno e chamou o Bravinha para o vocal, e assim se fez música e o ensaio, gentes da igreja ficaram espantados com a ousadia do padre e dos rapazes, - mas padre isso não esta na bíblia e nem é permitido na casa de Deus! -Pois não! Disse o Sabata nas suas poucas vezes que tinha ido à missa, e rematou o senhor Damaja, -mas senhor padre de quem é esta música? -K-ci and Jojo.
Santana em toda a sua delicadeza fez o seu discurso, de sempre. -tudo na casa do senhor é permitido, disse com entusiasmo o santificado e mortal ser humano padre. Sem estar muito bem conformado o Damaja concluiu que o que é preciso em Tarrafal é a ousadia e de vez em quando mandar um palavrão para algumas pessoas, e dizer como é duvidosa a música e alguns bons atos e atores que a música produz, mas a Muxima disse que a música é uma merda, mas fazer o quê? Se alguns deles querem, o poleiro!!! Ai também se reside a pura merda.